Um dos fundadores da Assemperj relembra a criação da entidade

Há quase trinta anos nascia a Associação dos Servidores da Procuradoria de Justiça do Rio de Janeiro (Asproju). Nesse período os poucos servidores pioneiros do MPRJ se uniram e criaram o que é hoje a Associação dos Servidores do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Assemperj). Para resgatar toda esta história, publicaremos uma série de entrevistas com personalidades que participaram de perto deste processo.

Começamos com esta coluna do Servidor em Foco. Wanderley de Mattos, servidor efetivo desde quando a instituição se chamava Procuradoria Geral de Justiça do Rio de Janeiro, conta que a luta começou na década de 70 mas só vinte anos depois foi institucionalizada na Associação. Ele foi vice presidente da entidade nas duas primeiras gestões, e explica que não havia dedicação exclusiva ao trabalho e por falta das tecnologias atuais a comunicação era muito mais difícil. Veja a entrevista na íntegra a seguir:

Quanto tudo começou na então Asprojur?

Mais ou menos por volta da década de 70 começou a se pensar a possibilidade de uma Associação. Depois a partir do procurador Nicanor Medici Fischer iniciamos a nossa primeira diretoria da Asproju com a Maria das Graças de Oliveira presidente e eu de vice mais alguns colegas. Custamos muito a fazer o registro, mas tivemos muito apoio do doutor Antônio Carlos Biscaia, que na época cedeu um espaço na Travessa do Ouvidor. Houve um ato de fundação, mas logo depois tivemos problemas e fechamos por quatro anos. No início, toda sexta-feira tinha um happy hour na sede com participação também dos membros. Era um período bom porque eram poucos servidores, a Instituição era na Nilo Peçanha. Só passamos a ser conhecidos como MPRJ a partir de 1992, era Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro.

O que motivou essa organização dos servidores?

Algo comum, éramos um grupo bem menor não só de servidores mas também de membros porque ainda era o estado da Guanabara muito pequeno. Então, havia essa união e um contato maior. Hoje sai uma comitiva do procurador ao interior e ficam os membros num local e motoristas e fotógrafos etc noutro mais simples, mas naquela época ficavam juntos. Não havia essa distinção, mas não estou dizendo que houve um distanciamento dos membros com os servidores. O primeiro dirigente da Associação a participar dessas mesas de solenidades oficiais é o atual, que tem trabalhado muito em prol da nossa categoria. Hoje é vice-presidente da Associação Nacional do MP. Então, junta a saudade daquele período com a grandeza da nossa Associação hoje. Naquela época participamos de poucos eventos fora do Rio, enquanto hoje a diretoria está viajando o Brasil quase todo visitando associações, falando do desenvolvimento da Assemperj. Isso é muito relevante e dá orgulho para quem viu uma coisa pequena chegar ao tamanho de hoje. Nossa Associação é respeitada e conhecida pelas entidades no Brasil todo.

Como enxerga as reivindicações dos servidores, mudaram muito no decorrer destes anos?

Continuam as mesmas, mas antes tínhamos mais facilidade de chegar ao PGJ porque encontrávamos toda hora por ter pouca gente. Hoje não sei, até porque não estou mais militando, mas o doutor Gussem sempre deu apoio à Associação. Hoje deve ter que agendar, não é aquela coisa de chegar e conversar independente de quem esteja na hora.

Quais as vitórias mais marcantes para categoria na sua época?

O aumento, passamos a ter mais entrosamento não só com o PGJ mas todo o gabinete na época. Tivemos algumas festas famosas, como as no Jockey Clube e no Monte Líbano. Tivemos aumento do salário e alimentação nesse período, o de saúde veio depois. Conseguimos um aumento salarial histórico por volta de 1977, que brincavam dizendo que fomos dormir pobres e acordamos ricos. Passamos a ganhar muito mais. Guardadas as proporções, as batalhas de hoje são as mesmas de sempre, a diferença é a modernidade. Hoje tem a facilidade de um computador, de um grupo maior, você pode chegar em Itaperuna com o pessoal já ciente do que está acontecendo na capital. Naquela época só tinha Rio e Niterói, tudo por telefone. Então hoje tem a possibilidade de se comunicar a qualquer hora do dia de qualquer parte do Estado em tempo real, dá para saber o que a Assemperj está fazendo e o pensamento da Administração em relação às necessidades dos servidores.

Qual a importância de ter uma Associação?

A Associação já é importante só de existir e ter respeito. A partir do momento que tem uma entidade que lute pela posição, o engrandecimento dos servidores e membros, o céu é o limite. Ela vai gerir, deliberar junto aos servidores, o que é melhor ou pior. Para que isso aconteça tem que ter união, se começar o racha deixa de ser uma Associação e vira uma bagunça. Sonho que nossa Assemperj continue como está. Uma ou outra divergência ou dúvida vai acontecer sempre, mas o que vai prevalecer é o todo e a finalidade da entidade. Temos visto nosso presidente brigar muito por ela. Nós já no finalzinho da década de 80 brigávamos para uma coisa que hoje não tenho visto nenhum tipo de ação, que é o servidor votar para o cargo de PGJ.

Está é uma pauta antiga que a atual direção também está tentando avançar tanto em Brasília no CNMP quanto aqui nos espaços de diálogo.

O dia que a gente conseguir isso será um avanço, não sei se Pernambuco conseguiu porque lá foi o primeiro Estado a lutar por essa pauta. É necessário, democratiza mais a máquina, a própria palavra democracia já fala. Há um receio de podermos votar, o servidor ser mais respeitado e reconhecido no ambiente de trabalho. No mais, conseguimos quase tudo que queríamos: auxílio alimentação, educação, salarial, etc. Estamos sem reajuste há anos, e todo ano aumenta tudo enquanto nosso salário continua estagnado. Tem servidor, por exemplo, com auxílio alimentação, educação, moradia, etc. Aí é casado com uma mulher com os mesmos benefícios, sendo que tem propriedade e recebe tudo em dobro. Então a gente tem que participar, correr atrás dessas coisas.

Nesses 30 anos de Associação o que é importante destacar?

Você se lembra do “Senta a pua”? Na II Guerra Mundial a FAB invadiu Monte Castelo, e nossos teco-tecos tinham escrito isso que significava: em frente, avante sempre! O que importa é a união, a Associação tem que estar presente e continuar assim enquanto puder.

Apesar da crescente da Assemperj, há uma preocupação geral das entidades quanto às reformas do governo em relação ao serviço público.

Não estou acompanhando tanto, até porque para nós aposentados não haverá alteração. Mas muitos pontos precisam ser revistos, principalmente do time que está lá em cima. Só tem melhoras para eles, com as mesmas vantagens e direitos, como os militares e policiais.